Crepusculo e a Recordação


José M. Rosendo

 

O mar bravio cresce nos meus olhos e se esparrama pela praia, espantando as batuyras que catavam bichinhos no chão. As ondas quebram com grande fragor imitando carrilhões cantando uma balada cheia de melancolia.

Nessa hora, o Poente se tinge do escarlate vivo - a côr da rebeldia - mesclando com o ouro da pacificação e da vida. E esse constraste profundo forma a paizagem de magnificiência, que inspira os poétas, que desperta amor nos corações, fazendo vibrar o sentimental que existe em nosso ser. O por do sol!

E, junto ao mar, fico extatico ante tamanha beleza! Nada ha, que se lhe compare em explendor. As ondas vêem molhar os meus pés, sem que dê por isso. As gaivotas aos bandos, passam como caravanas no deserto azul do ceu. Tudo é belo! Tudo é grandioso!

As côres do Poente vão esmaecendo, nessa hora que se antecede ao anoitecer. O grande sino da Matriz de Sant'Ana toca a Ave Maria, enchendo o ar com sua voz, cheia de promessas - "Salve Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade". Sinto-me então, diminuto ante essas maravilhas do Creador. Sinto os olhos marejar, ao presenciar, recortado contra as luzes crepusculares, a silhueta altiva do secular Convento. Esse mesmo Convento pelo qual meus ancestrais guardavam uma veneração religiosa.

Penso então nos indios adorando a terna e bondosa figura de José de Anchieta, esse que foi forte e denodado, levando um sorriso nos labios, uma Cruz nas mãos e a humanidade na alma, em confronto com a selvajeria do aborigene, contra suas flechas e contra o seu espirito guerreiro. Travava-se a luta sem treguas entre a Cruz de Cristo e a alma cruel do indio. Submetiam-se os catequizadores a todos os sofrimentos e privações em meio à selva virgem convertendo incultas almas em humildes servos de Deus. E vencia a Cruz, o Simbolo da Fé, da Paz e do Amor!

E as cores do Poente mais e mais, fazendo salientar-se profundamente a figura do Convento no pincaro promotório.

Do mar, sopra uma brisa fresca trazendo cânticos celestes. As batuyras, em revoadas, vão-se a procura de seus pousos. E, eu, imitando os passaros, sigo em direção a casa. Vou devagar pensando na minha cidade, onde em cada esquina ha uma recordação de um passado historico.

Itanhaem - Seus filhos fizeram-na grande no passado, merecendo por isso a imortalidade. No presente o possível, para que nossos netos nos relembrem elogiosamente. Isso é a promessa de um teu dedicado filho.

E de logo ouço o bramir fragoroso do mar, quebrando de encontro a praia, fazendo côro com a brisa soprada de longínquas plagas.

 

Fonte: Jornal de Itanhaém de 12/12/48

 


 
 
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