O Maciço da Juréia no litoral Sul paulista,
tem 890 metros de altitude e é uma antiga ilha hoje ligada
ao continente por terrenos de aluvião cobertos por uma floresta
costeira típica, de médio porte. Há anos ela
despertou a atenção dos conservacionistas, principalmene
os da Sociedade de Ecologia de Itanhaém chefiada pelo Professor
e Vereador Ernesto Zwarg. Em consequência dos seus esforços,
o CONDEPHAAT (Conselho do Patrimônio Histórico e Artístico
do Estado de São Paulo), da Secretaria de Cultura, em reunião
efetuada no dia 12 de dezembro de 1977 decidiu tombar aquele maciço.
O professor Ernesto Zwarg e o jornal "O Estado de São
Paulo", que estavam fazendo uma campanha pela preservação
do Maciço da Juréia, obtiveram um avião monomotor
para que eu pudesse sobrevoar a região. No dia 5 de janeiro
de 1978, eu e o fotógrafo Araquem Alcântara de "O
Estado de São Paulo" fizemos um extenso sobrevoô
daquela área. Imediatamente verifiquei que estavam certos
os que pretendiam a preservação do belíssimo
maciço comos seus costões intactos onde bate o mar
revolto; há também pequenas extensões de praia,
incrustadas nos rochedos. Vi a foz do Rio Verde de águas
transparentes e as florestas recobrindo as encostas, típicas
da mata atrântica de alto porte; avistei também a vegetação
arbustiva em áreas de solo mais raso. Apreciei a linda presença
da floresta típica de restinga, de baixo porte, ainda praticamente
intacta na região. Cercando toda essa área está
a floresta de porte médio, mata úmida de solos pantanosos,
cobrindo toda a extensão que liga o Maciço da Juréia
à Serra dos Itatins e regiões vizinhas. Observei também
grandes praias: ao Sul, a Praia da Juréia e ao Norte , a
Praia do Una, praticamente intactas, monstrando atrás a vegetação
praieira seguida da mata da restinga. Era, enfim, um lugar esplêndido
pela sua variedade de ecossistemas e pela sua imensa beleza cênica.
Quando retornamos do sobrevôo, dei uma entrevista dando apoio
da SEMA à conservação e à proteção
daquela área.
No dia 6 de setembro de 1978, em Brasília,
um dos proprietários da área, juntamente com advogados
seus e da imobiliária e construtora, que dividiam entre si
a propriedade da maior parte do Maciço da Juréia e
áreas vizinhas, vieram acertar conosco detalhes sobre a doação
da área à SEMA. Eles reservaram para si a planície,
que pretendiam urbanizar, e nos deram a área montanhosa.
A nosso pedido concordaram em ceder o Rio Verde até a sua
foz. Por outro lado, pediram a reserva de duas pequenas áreas
em platôs situados a cerca de 400 metros de altitude, para
ali fazerem belvederes. Essa nos pareceu uma proposta muito boa,
embora importasse no sacrifício da maior parte da floresta
da restinga. Mas não havia outra alternativa pois não
tínhamos recursos para adquirí-la.
No dia 25 de julho de 1979, em solenidade realizada
no CONDEPHAAT, foi feito um compromisso escrito de doação
de uma área de 1.100 ha. Assim, eles procuraram conciliar
a conservação com a utilização econômica-turística
das áreas de baixada. Nessa solenidade também foi
assinado o tombamento do Maciço da Juréia.
No dia 12 de novembro de 1979 o Contrato de Comodato
foi assinado sendo publicado na íntegra no Boletim de Serviço
do Ministério do Interior sobr nº 677, em 12.11.79 e
em forma resumida no Diário Oficial da União X, pg
17.190, em 30.11.1979. Esse Comodato deu status legal à presença
da base da SEMA na Juréia. Valeria até que fosse efetivada
a doação já prometida por escrito, mas que
aguardava, para se efetivar, uma definição do Governo
Federal sobre a construção de usinas nucleares na
região. Já corriam boatos a respeito dessas usinas.
No dia 10 de janeiro de 1980, a CESP (Centrais Energéticas
de São Paulo) fazia trabalhos exploratórios naquela
região, indicando claramente que ela tinha uma destinação
nuclear. Durante o restante do semestre houve uma série de
notícias e comentários nos jornais, sobre esse assunto.
Finalmente, no dia 04 de junho de 1980, pelo Decreto
Federal nº 84.771, o Presidente da República desapropriou
a área necessária para o complexo nuclear, incluindo
também grandes extensões que consitituiriam uma grande
área tampão entre a urbanização que
se espelhava ao longo da costa e as usinas nucleares.
No dia 17 de junho de 1980, no Anexo Leste do Palácio
do Planalto, realizou-se uma reunião em que ficou resolvido
que a área nuclear que estava sendo planejada, seia instalada
com presença da SEMA, que manteria e ampliaria ali sua Estação
Ecológica.
No dia 29 de julho de 1980, saiu o Decreto Federal
nº 84.973 estabelecendo no seu Art. 1º que "as usinas
necleares deverão ser localizadas em áreas delimitadas
com estações ecológicas". Dessa maniera
a SEMA, que já estva instalada dentro da área desapropriada,
continuou ali presente.
A construção da sede da Estação
Ecológica foi muito difícil, pois todos os materiais
tiveram que ser transportados a partir da praia de Iguape, em canoas,
contornando o costão até a foz do Rio Verde. Dalí
seguiria até o local da sede atual.
Em 08 de dezembro de 1979, as clareiras para a construção
das casas da sede da Estação Ecológica da Juréia,
já estavam prontas e o material de construção
se encontrava depositado no alto de barrancos atrás da praia
da Juréia, aguardando o transporte por barco. Nos primeiros
dias de 1980 uma fortíssima ressaca atingiu grande parte
desses materiais, destruindo-os. Foi preciso substituit tudo o que
o mar levou ou inutilizou, tarefa demorada. Só em 23 de abril
o material de construção chegou à Foz do Rio
Verde. Finalmente, em 04 de junho, a terraplanagem do local da sede
estava pronta e os materiais já se encontravam lá,
para a montagem das casas.
A partir da instalação da sede, a Estação
Ecológica da Juréia começou a receber as visitas
de cientistas, iniciando-se lá os trabalhos de pesquisa.
Posteriormente, com a construção da Balsa do Rio Una
e da estrada de acesso ao Rio Verde, os cientistas puderam chegar
com maior facilidade à Juréia.