Nota:
Texto transcrito conforme o original
"A
cidade de Santos é naturalmente o ponto de partida para todas
as comunicações, com a costa maritima e com o interior,
não só pela sua posição como também
pelo magnífico porto e pela grande rêde férrea
que ahi tem origem.
Ella
é a cidade mais importante do nosso litoral e a qual tem
diante de si um horizonte vasto, de vida e de progresso, por ser
o escoadouro mais natural e melhor para os productos de uma grande
parte do Sul do Brazil e o porto por onde se ha de fazer a importação
de tudo que precisar do estrangeiro, este grande pedaço
do nosso Paiz.
Já
é uma das praças commerciaes mais importantes da
América do Sul, tal é o valor de suas transacções
e o movimento, sempre crescente, do porto.
Não
podemos considerar os ultimos annos para aquilatar da sua importancia,
por causa da guerra, que reduzio extraordinariamente a navegação
e tudo desorganizou.
Até
bem pouco tempo, todo o commercio de Santos trabalhava quasi que
exclusivamente com o café; pois esta cidade é o
maior entreposto mundial deste producto.
Hoje,
o Estado não vive só do café pois a polycultura
e a pecuaria desenvolveram-se rapidamente, seguindo a industria
a mesma marcha ascendente, collocando-nos em uma posição
solida e de real valôr.
O
Governo do Estado e a camara municipal de Santos têm sabido
comprehender o que é, o que vale e o que ha de ser esta
cidade, para dotal-a com uma serie harmonica e completa de melhoramentos
que visam exclusivamente a sua prosperidade e a sua grandeza.
A
hygiene e a engenharia têm ahi um dos seus triumphos mais
perfeitos e completos com os magnificos e modelares trabalhos
que executaram, de um modo digno de especial menção.
Santos
hoje é uma cidade modelar sob qualquer ponto, que queiramos
observal-a.
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Av.
Ana Costa - Santos |
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Av.
Conselheiro Nébias - Santos |
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Praia
do José Menino e Ilha Urubuqueçaba - Santos |
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Pescaria
com Arrastão - Santos |
Ha
pouco tempo ella estava ligada, ao interior, quasi que exclusivamente
pela E. F. Ingleza, esse arrojo da engenharia que vence as quebradas
da Serra do Mar, com grande segurança e com um trafico
intenso, por ser o tronco da grande rêde ferrea do Estado,
porem agora tem mais a E. F. do Juquiá, que visa ligar-se
com as linhas do Estado do Paraná, pondo-a em communicação
com o Sul do paiz e passando pelo fertil e quasi despovoado valle
do rio Ribeira de Iguape, que será um dos mais fartos celleiros.
Com
grande parte da região, servida pela E. F. do Juquiá,
está em communicação por meio da bella e
magestosa ponte pensil ligando a ilha com o continente e com o
planalto, por meio da velha estrada Vergueiro, toda restaurada
e macadamisada, destinada a automoveis, a qual acompanha a E.
F. Ingleza, até a estação do Cubatão
e ahi toma á esquerda em demanda da Serra do Mar, que procura
subir, por meio de um traçado caprichoso e offerecendo
empolgantes panoramas.
A
rampa é forte e as curvas são muito apertadas de modo
que as paizagens mudam-se de instante a instante, proporcionando-nos
pontos de vista lindissimos, onde a natureza tropical apresenta
toda a sua exhuberancia e a cordilheira do mar toda a sua aspereza
e magestade.
Toda
a serra é bellisima, porem do meio para cima não
ha um so trecho, que não nos faça encher de admiração
e de pavor: são os abysmos escuros, os desfiladeiros extensos
e os penhascos medonhos, que se succedem quasi que ininterruptamente.
Caminho
do Mar: antiga ligação entre a Capital e Baixada
Santista |
Derivando
dos grotões cobertos de espessa e robusta vegetação,
encontra-se, de vez em quando, ao lado da estrada um filete d'agua
crystallina e pura, quasi gelada, ladeado de avencas delicadas
e de begonias mimosas, correndo rapidamente e precipitando-se
logo no meio de rochedos vertiginosos, que desapparecem no meio
da floresta secular.
Ao
longe, divisa-se o Oceano, na sua grandeza, coberto de azul de
turqueza, ladeado pela baixada do Cubatão, cortada de canaes
e rios, salpicada de casinhas alvas e com um outro monte isolado;
fazendo forte contraste com o alcantinado da serrania que se extende,
a perder de vista.
Quando
vemos este quadro amplo, maravilhoso e indiscriptivel temos a
impressão que o contemplamos de um aeroplano collocado
á grande altura.
As
praias existentes nas proximidades de Santos são de extraordinaria
belleza, atrahindo para lá, no inverno muitas familias de
S. Paulo, que vão concorrer para augmentar a animação
e o encanto existente.
Na
parte Oeste da ilha acha-se a cidade de S. Vicente, pequena e modesta,
guardando a tradição da nossa nacionalidade e onde
vamos encontrar proximo ao mar, talvez o unico monumento commemorativo
do descobrimento do Brazil.
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Monumento
do 4º Centenário do Descobrimento do Brasil |
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São
Vicente |
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São
Vicente |
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Praia
de Itararé |
Lá
existe, na praça 13 de Maio, singelo e suggestivo, com
12 metros de altura, situado em frente á barra, determinando
o logar em que desembarcou Martim Affonso de Sousa.
Foi
inaugurado, á 23 de Abril de 1900, por occasião
da commemoração do IV centenario do descobrimento
do Brazil.
As
duas faces do monumento voltadas para o Norte e para o Sul commemoram
a fundação de S. Vicente, primeira capitania regular
que se estabeleceu no Brazil e as de Éste e Oeste o descobrimento
do Brazil com inscripções e escudos allusivos, tendo
no centro o brazão d'armas de Pedro Alvares Cabral.
No
segundo plano, vê-se o escudo com o brazão e armas
de Martim Affonso de Sousa, tendo por timbre o Leão Rompente;
e no terceiro plano, um medalhão com a cruz da Ordem de
Christo, circundado por esta divisa - Deus, Patria e Liberdade
- Terra de Vera Cruz.
O
monumento é coroado pela esphera armillar de D. Manoel.
Em
alguns escudos e placas, estão os nomes dos principaes
descobridores e chefes indigenas, bem assim dos primeiros missionarios
que aportaram nestas plagas, lançando o germen da civilisação
e defendendo a integridade da colonia fundada por Martim Affonso.
Ao
lado da praça, em que esta o monumento, proximo á
montanha, encontram-se ainda alguns restos de alicerces do collegio
dos padres jesuitas, fundado nesta capitania.
Na
mesma montanha, proximo ao monumento, um pouco acima do logar
em que foi estabelecido o collegio, existe ainda bem conservada
a fonte, a qual abastecia o mesmo collegio.
Esta
velha fonte, ainda hoje, é conhecida, como o nome de "Bica
dos Padres".
A
casa onde funcciona a municipalidade de S. Vicente, foi reconstruida
em 1729, bem assim, a Igreja Matriz em 1757; no mesmo logar em
que existio a primitiva, desta segunda povoação.
Tudo
isto é digno de observação e até de
uma cuidadosa conservação.
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Ponte
Pensil |
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Construção
da Ponte Pensil |
Deixando
a ilha e atravessando a ponte pensil nos conduzimos para a Praia
Grande, uma das mais extensas e largas que conhecemos; pois tem
44 kilometros de extensão, fazendo uma curva, quasi imperceptivel,
onde a areia está quasi sempre humedecida, tornando-se
por isso lisa e dura, offerencendo um caminho explendido para
automoveis e constituindo um optimo passeio.
Quasi
no meio da Praia Grande e a Serra do Mar atira um ingreme contraforte
que vae até bem perto do Oceano, com o nome de serra de Mongaguá,
que é divisora entre as aguas dos rios Cubatão e Itanhaen.
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Ponte
sobre o Rio Mongaguá - E. F. Juquiá |
Continuando
pela ampla Praia Grande avista-se, do lado de terra, uma mancha
branca elevada que depois vae-se ampliando até nos mostrar
em seus detalhes, sobre um outeiro de granito o vetusto Convento
de Itanhaen, construido em 1534 e que é um dos mais antigos
templos que possuimos. Singelo em suas linhas mostra-nos bem o
que era a architetura, na epocha colonial e por isso mesmo devia
ter uma melhor conservação e merecia que os poderes
publicos tomassem-no sob sua protecçao, pois elle pela
sua posição dominante e pela tradição
que encerra, é por si só um monumento que evoca
os feitos dos nossos maiores, na aurora da nossa existencia.
No
limiar da longa escadaria, que conduz ao convento, existe uma curiosa
cruz de pedra quasi toda redeada de bancos, também de pedra
e que é bem digna de figurar naquelle logar, estabelecendo
um conjuncto harmonico.
Entre
o outeiro do convento e o Oceano, sobre uma esplanada, está
a pequena cidade de Itanhaen, um dos mais antigos nucleos de povoação
do Estado e que representou papel saliente, no periodo colonial.
Ao
lado da cidade tem sua barra no Oceano o rio Itanhaen formado pelos
rios Branco e Preto, que tem como principaes affluentes os rios
Aguapehú, Mambuhú ou Mambú, Taquarú,
Itariru e Crasto.
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Ponte
de Ferro da E. F. Juquiá - Itanhaen |
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Rio
Itanhaen e ponte da E. F. Juquiá |
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Travessia
em canôas no Rio Itanhaen |
O
valle do rio Itanhaen é muito extenso, é o segundo
em importancia do littoral e suas terras são muito ferteis.
Nas
cabeceiras do rio Branco, em terras devolutas, o Estado possue
explendidas cachoeiras, que certamente, em breve, servirão
para vir prestar o seu contingente de auxilio ás industrias,
na propria Capital.
Atravessando-se
as aguas tranquilas do rio Itanhaen, que mais parecem as de um
lago, onde se espalha uma paizagem muito bella, encontramos á
poucos passos da margem, duas praias pequenas, cada qual mais
linda, cobertas de delicadas conchas, e que formam um dos recantos
mais apraziveis com que fomos dotados pela natureza.
No
fim da segunda prainha está o morro Paranabuca, em cuja
extremidade occidental encontra-se o chamado poço de Anchieta,
cuja lenda é original, alem de outras que tambem se referem
á esse padre.
A
Serra do Mar, depois que fronteia as cabeceiras do rio Itanhaen,
vae se affastando cada vez mais do littoral para dar logar ao extenso
valle do rio Ribeira de Iguape, e naquella região, tem alguns
contrafortes de importancia com que são conhecidos pelos
nomes de serra Taguassetuba, do Bananal, das Larangeiras etc.
Aqui,
ainda encontram-se algumas familias de indios guaranys semi-civilisados,
principalmente no rio Itarirú e no ribeirão do Roque,
nome talvez tirado de um chefe indigena que ahi teve a sua "oca"
e onde ainda existe um trilho subindo a Serra, conhecido por caminho
do Indio Roque.
O
Rio Paraná Mirim é o que tem o curso mais caprichoso,
em toda a nossa costa.
A
pesca constitue a maior industria em toda essa zona e é
feita em grande escala, por causa da proximidade em que se acha
do grande centro de consumo e de exportação, que
os pescadores encontram em Santos, para onde o transporte está
se tornando cada vez mais facil.
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Nas
margens do rio dos Prados encontra-se a antiga aldeia de São
João Batista e ahi perto as ruinas da velha igreja
chamada do Abarebebê, da qual so existe a tradição
e alguns pedaços das muralhas das paredes.
Não
comprehendemos, como se deixa acabar verdadeiras reliquias,
maxime tratando-se de templos religiosos que foram construidos
em uma epocha tão notavel e que a sua conservação
seria ao menos uma homenagem aos seus constructores, cujos
nomes fulguram nas paginas de nossa historia patria.
Em
frente, no Oceano, acha-se as ilhas Queimada Grande e Pequena.
No
extremo da extensa praia de Peruhybe existe o povoado do
mesmo nome.
Ella
é semelhante a Praia Grande e constitue tambem uma
excellente via de communicação, pois é
uma magnifica estrada natural com 25 kilometros de extensão
e quasi recta.
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Entre o povoado e o morro
de Peruhybe está o rio que tambem tem este nome, formado
pelos rios Preto e Branco.
A
E. F. do Juquiá, segue o curso deste rio quando deixa o litoral
e vae procurar as aguas do valle da Ribeira, de Iguape, atravessando
a garganta, que prende a Serra dos Itatins á cordilheira
do mar, porque ella é uma serra inteiramente separada do
grande massiço e de uma feição muito original,
por causa dos seus pontos culminantes attingirem á elevadas
alturas, como o Dedo de Deus á 1300 metros e o Tres Pontas
á 1350, além de outros de menor importancia que, vistos
do Oceano são de um bello efeito e movimentam muito a paizagem.
Deixando
o rio Peruhybe e continuando pela costa encontra-se o rio Guarahú
e depois deste a grande montanha, conhecida pelos nomes de morros
de Ytú e do Maceno, que contraverte para o rio Una do Prelado.
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Morros
de Itú e Fazenda - Guarahú |
Esta
região constituio um refugio dos indios no tempo em que
os lusitanos entregavam-se ao seu commercio, pois a natureza do
terreno lhes era muito favoravel para a defesa contra os invasores,
que no geral entravam pelo littoral.
Contam
que foi ahi que o celebre negociante e caçador de indios
Pedro Corrêa, deixou esse infamante trafico devido ás
ponderações de um padre jesuita Leonardo Nunes,
fazendo-se tambem filho da igreja e mais tarde tornando-se um
dos maiores defensores dos indios.
Este
bello episodio da nossa vida colonial inspirou o artista patricio
Benedicto Calixto, filho glorioso daquella zona, a produzir um
dos seus bons trabalhos, na matriz de Santa Cecilia, nesta Capital.
O
rio Una é muito extenso e contorna a Serra da Juréa,
offerecendo bôa navegação para canôas
e por isso ligaram-no, por meio de um canal, ao rio Suá
Mirim que vae desaguar no Ribeira de Iguape, perto da sua foz,
de modo á faciliar a navegação, em uma grande
extensão, do mesmo modo ligaram-no com o rio Aguapehú,
affluente do rio das Pedras.
O
seu principal affluente é o rio Cacanduva, que nasce na
Serra dos Itatins.
Na
extremidade da praia da Juréa encontra-se a barra do rio
Ribeira de Iguape, cujo levantamento já fizemos e publicamos
em relatorio, menos a parte que diz respeito aos seus importantes
affluentes Una da Aldeia e Peropava, que fizemos nesta tarefa,
e que é uma da mais ricas e de mais importancia, tratando-se
da cultura do arroz, onde, é quasi que exclusivamente a
lavoura que ahi fazem, com grande facilidade e vantajoso lucro.
O
Ribeira e quasi todos os seus affluentes offerecem bôas
condições de navegabilidade, precisando de alguns
pequenos melhoramentos, para facilitar o serviço de navegação
á vapor, que ahi se faz, com subvenção do
Estado.
A
abertura de alguns canaes, o alargamento de alguns trechos de
pequenos rios e a sua conservação, feito de accordo
com um plano bem estudado, seria de extraordinaria vantagem, porque
viria fazer a drenagem, melhorar as condições hygienicas,
valorizar as terras, intensificar as culturas em tão fecundo
solo e facilitar as communicações.
Antigamente
as communicações com a cidade de Iguape faziam-se
pela barra de Icapara, porém á proporção
que o chamado valle grande foi se alargando e o Ribeira escoando
suas aguas por elle a barra foi se intupindo cada vez mais e difficultando,
agora, por completo a navegação.
Chama
rio Pequeno a um verdadeiro canal natural, ligando as aguas do
rio Peropava com as do rio Una da Aldeia.
Recebe
em seu curso alguns pequenos affluentes, tem muitos moradores em
suas margens e presta bom serviço ás communicações,
feitas em canoas e ao transporte dos productos.
Uma
de suas cabeceiras é o rio Guaviruva, que approxima-se por
tal forma do rio Ribeira, no porto Cabral, que com um canal de 250
metros de extensão pode se fazer o rio Ribeira mudar o seu
curso para o do Peropava, o que seria uma solução
á estudar para libertar a cidade de Iguape das erosões
do Vallo Grande e do encontro das aguas, na barra de Icapara, dando
formação á bancos de areia, alguns movediços.
Assim,
o Peropava despejaria suas aguas, bem accrescidas de volume, no
rio Ribeira, proximo á barra deste no Oceano e deste modo
evitaria que a acção da maré se fizesse sentir
nessa zona, estragando muitos terrenos, que estão se tornando
salgados e improprios para a lavoura.
Estudado
convenientemente este problema complexo, talvez seja elle a salvação
de Iguape e o meio de restabelecer-se a navegação,
pela barra de Icapara com os navios que fazem a cabotagem.
Iguape,
a antiga villa de Nossa Senhora das Neves e depois Bom Jesus de
Iguape, é uma das cidades mais importantes do littoral
e o grande emporio do arroz, pois ahi é beneficiado a maior
parte, ou quasi a totalidade, do que é produzido em seu
extenso municipio, um dos maiores do Estado.
Ultimamente,
augmentaram muito esta cultura de modo que attrahio para lá
algum capital e agora está sendo muito procurado, pelos
japonezes que estão se localisando no Registro e ao longo
da E. F. do Juquiá.
A
barra de Icapara, é a entrada para o Mar Pequeno, verdadeiro
canal que vae até Cananéa, formando a ilha Comprida
com 61 kilometros de extensão e 3,5 de largura em média,
tendo de original o rio Cadanpuhy, que atravessa-a, de um extremo
á outro e um logar chamado Villa Nova, onde o Tenente Coronel
Affonso Botelho de Sampaio e Souza, tentou fundar uma povoação,
em 1767, por ordem do Governador de São Paulo, que tinha
resolvido augmentar, no littoral, o numero de povoações.
O
Tenente Coronel escolheu o sitio, no dia 7 de janeiro de 1767
e cuidou de fundar a aldêa e a 1º de Agosto de 1770
foi elevada á villa.
Deram-lhe
o nome de "Villa de Nossa Senhora da Conceição
da Marinha" e cuidaram de demarcar as suas divisas.
A
posição escolhida não foi bôa por isso
a povoação não properou e extinguio-se.
Em
1779, o Governo mandou recolher os livros á Camara de Iguape
e as alfaias da Egreja de Nossa Senhora da Conceição
á Egreja de Nossa Senhora das Neves de Iguape.
Do
porto de Sabauna parte a estrada para a colonia do Pariquera e Jacupiranga,
servindo á uma parte muito bôa do municipio de Iguape
e onde o Governo do Estado, ha muitos annos, procura fixar o trabalhador
europêo.
O
Mar Pequeno offerece magnificas condições de navegabilidade
e uma bôa direcção geral, tendo algumas ilhas
como as chamadas Grande, Garça e de Cananéa, que
é a maior de todas e onde encontra-se a cidade desse nome,
proximo a bahia de Trapandé, em uma bella posição,
offerencendo um aspecto muito agradavel, vista do mar.
Cananéa
foi o segundo ponto do littoral paulista onde aportaram os navegantes
portuguezes, em 1501.
Ahi
foi degradado o "bacharel" que captou a sympathia dos
indios e viveu muitos annos, tornando-se grande conhecedor do
littoral.
Uma
das primeiras tentativas para o conhecimento do interior do paiz
teve sua origem em Cananéa, pois foi de lá que partio
Pero Lobo, na direcção de Oeste com o auxilio de
aventureiros, que viviam naquelle logar. Essa expedição
não alcançou exito e della nunca se conseguio uma
informação verdadeira.
O
porto de Cananéa é de muito futuro, apesar de ser
um pouco rasa a entrada da barra, obrigando os navios que para ahi
se destinam a esperarem pela maré alta, ao lado da ilha do
Bom Abrigo; porem isto pouco importa, uma vez que o desenvolvimento
do Estado exija a construcção de um novo porto, para
facilitar o escoamento de seus productos.
Naturalmente
denominaram a ilha que existe, quasi em frente á entrada
da barra de Cananéa, de Bom Abrigo, porque quando navega-se
para o Sul, com o mar agitado e se approxima della, nota-se uma
grande differença, parece que se vae entrando em um porto
bem abrigado, tal é a proteção que offerece
contra os temporaes, e o ancoradouro esplendido que ahi existe,
facilitando muito as communicações com Cananéa.
Proximo
á barra de Cananéa encontra-se a bahia de Trapandé,
bastante ampla e profunda, tendo á esquerda a grande ilha
do Cardoso, uma das maiores que temos.
Entre
esta ilha e o continente existe o canal de Ararapira, que vai ter
ao Oceano pouco além do povoado deste nome, o ultimo que
temos na Costa do Sul.
Ararapira
é districto de paz e acha-se situada na margem direita
do rio Varadouro de Cima, o qual acha-se ligado á bahia
de Parananaguá pelo pequeno canal conhecido por Estrada
do Varadouro e por onde atravessam canôas com certa facilidade.
A
abertura de um verdadeiro canal, largo e profundo, neste logar
viria facilitar muito a navegação no Sul do Estado
e valorizar muito uma grande zona.
Iguape
poderia ficar em facil communicação com Cananéa,
Ararapira, Guarakessaba, Antonina e Paranaguá."
João
P. Cardoso - Chefe da Comissão
Fonte:
Commissão Geographica e Geologica do Estado de São
Paulo
(Exploração do Littoral - 1920)
Colaboração: Haroldo de Souza, residente em Suarão,
Itanhaém/SP
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