Apesar
das inúmeras e renomadas crônicas, há controvérsias
históricas, não somente com relação
à data de fundação de Itanhaém, como,
ainda, acerca de seus fundadores. O castelhano João Rodrigues
e o português Antonio Soares, em 1549, ou o próprio
Martim Afonso de Souza, quando de sua estada em São Vicente
entre 22 de janeiro de 1532 e abril de 1533, são apontados
como fundadores da povoação. De acordo com o grande
pintor e historiador Benedito Calixto, filho de Itanhaém,
foi Martim Afonso de Souza quem escolheu o local da povoação
e da ermida que recebeu o nome de Imaculada Conceição.
Os historiadores são unânimes em afirmar que essa ermida
foi o primeiro templo erguido sob a invocação da Imaculada
Conceição. É considerada uma das mais velhas,
senão a mais velha igreja do Brasil.
No
meio da Praia de Peruíbe, entre os rios desse nome e o de
Itanhaém, duas léguas a oeste, existiu, contemporâneamente,
pequena povoação também denominada Nossa Senhora
da Conceição de Itanhaém, fundada, provavelmente,
pelo Padre Leonardo Nunes, o Abarebêbê - padre que voa
- a qual, mais tarde, passou chamar-se São João ou
São João Batista de Peruíbe e, hoje é
conhecida por Aldeia Velha, dela nao restando mais que vestígio
da igreja e residência dos Jesuítas.
Os
missionários da Companhia de Jesus, até sua expulsão,
no século XVIII, foram os que mais se ocuparam da catequese
dos silvícolas "Itanhaens". Indelevelmente assinaladas
na tradição local, são as passagens dos missionários
Nóbrega e Anchieta. Aos franciscanos, chegados no século
XVII, deve-se a construção do convento, ao lado da
ermida Nossa Senhora da Conceição de Itanhaém.
Itanhaém
foi elevada a Vila no ano de 1561, por provisão do Capitão-Mor
Francisco de Moraes, loco-tenente do donatário Martim Afonso,
governador da Capitania de São Vicente. No entanto, Frei
Basílico Rower, em suas "Páginas de História
Franciscana do Brasil", aduz, documentadamente, que o Capitão
Francisco de Morais foi o fundador da vila "apenas por comissão",
sendo verdadeiro fundador Pedro Martins Namorado, o conquistador
das terras de Itanhaém.
Todas
estas controvérsias confirmam e ressaltam a importância
histórica de Itanhaém e o historiador marca, já
no século XVII, após as primeiras lutas e dificuldades
do povoamento, a fase áurea da Vila de Itanhaém.
Em
30 de novembro de 1623, por ordem expressa do Governador Geral,
registrada nas Câmaras de São Vicente e de São
Paulo, os camaristas de São Vicente davam posse ao Conde
de Monsanto, na pessoa de seu loco-tenente, Álvaro Luiz do
Valle. Esta posse, segundo ainda nos diz Benedito Calixto, em "Capitanias
Paulistas", página 79, abrangia as Vilas de São
Vicente, Santos, São Paulo e de Santa Ana de Mogy, as ilhas
de Santo Amaro e São Sebastião, a povoação
de terra firme defronte da dita ilha, todas as vilas, ilhas e povoados
compreendidos nas demarcações feitas pelo Provedor,
desde o rio Corupacé até o rio de São Vicente.
Por esta forma, diz Pedro Taques; "Foi a Condessa de Vimieiro,
dona Mariana de Souza Guerra, repelida da sua Vila Capital de São
Vicente, bem como da de Santos, São Paulo e da de Mogy das
Cruzes (eram estas duas vilas as que, em Serra acima, estavam eretas
até esse tempo). Vendo-se assim destituída, a dita
Condessa de Vimieiro fez então - Cabeça da Capitania
- a sua antiga Vila de Nossa Senhora da Conceição
de Itanhaém". "Para governarem esta nova Capitania
de Itanhaém, nomeou sempre a dita Condessa, Capitães-mores-governadores,
cada um dos quais governou, com ampla jurisdição,
até a cidade de Cabo Frio, desde este ano de 1624 até
o de 1645, em nome da dita Condessa, como se vê no Cartório
da Provedoria da Fazenda e nos livros das Sesmarias".
"A
Vila de Itanhaém assume, pois, esta data em diante - 7 de
fevereiro de 1624 - para sua vida política, aliás
muito legal e legítima - continua o historiador Pedro Taques
- o título e categoria de sede da Donatária de Martim
Afonso, sob o nome de Capitania de Itanhaém, cuja jurisdição
abrangia as cem léguas da costa com os respectivos sertões,
doados ao dito Martim Afonso de Souza, no referido "Foral de
D. João III"
Essa
jurisdição, convém que se note (conforme a
medição feita pelo próprio Provedor Fernão
Vieira Tavares), começa na parte meridional da referida Ilha
do Mudo (Ilha Porchat), na barra de São Vicente, e se estendia
por toda a costa sul até a Ilha do Mel, na barra do Lagamar
de Paranaguá, onde, como já ficou demonstrado, "estava
posto o marco, mandado colocar ali pelo próprio D. João
III". (Pedro Taques - Capitanias Paulistas, pág. 82
- Benedito Calixto).
Durante
o período que a Vila de Itanhaém gozou de prerrogativas
de Cabeça da Capitania dos herdeiros de Martim Afonso de
Souza, foram igualmente criadas as vilas seguintes: Sorocaba, Iguape,
Cananéia e mesmo a de Paranaguá, embora estivesse
uma parte do território desta última povoação
fora da dita jurisdição, conforme foi referido.
Historiadores
modernos consideram uma ilegalidade o título de Capitania
de Matim Afonso, não poderia adotar outro título que
não fosse o de Capitania de São Vicente.
Pela
Lei n° 1.021, de 06 de novembro de 1906, Conceição
de Itanhaém passou a chamar-se apenas Itanhaém. Itanhaém,
fundada em 22 de abril de 1532, elevada a vila em 1561 e cabeça
de Capitania em 1624, sob a denominação de Capitania
de Nossa Senhora da Conceição de Itanhaém,
teve, nessa época, predicamento e jurisdição
sobre toda uma vasta região (desde Cabo Frio, ao norte, até
Paranaguá, ao sul, bem como sobre as vilas de São
José dos Campos, Taubaté, Pindamonhangaba, Guaratinguetá
e as povoações criadas nas lavras de Minas Gerais).
Gozou
dessa prerrogativa nada menos que cento e cinquenta anos, e essa
foi a época áurea de sua história. Encontramos,
na sede da Câmara Municipal de Itanhaém, por iniciativa
do Instituto Geográfico de São Paulo e inaugurada
em 1924, uma placa comemorativa do II Centenário da Capitania
de Nossa Senhora da Conceição de Itanhaém.
Conforme se infere nas crônicas franciscanas, foi durante
a sede da Capitania que aqui eles se estabeleceram e, então,
ajudados pelo povo, edificaram o famoso convento que foi um dos
principais de sua Ordem, no Brasil.
Itanhaém
foi elevada a sede do município pela Carta Régia de
20 de outubro de 1700.
Fonte:
Correio do Litoral, de 21/28 de abril de 1984