Não sabemos com precisão em que época se iniciou
a industrialização de Itanhaém. Na verdade ela é quase irrisória
até nos dias de hoje.
Segundo o Monsenhor Paulo Florêncio da Silveira
Camargo, no seu livro "A Igreja na História de São Paulo", que abrange
o período de 1821 a 1851, há uma referência interessante sobre os
produtos fabricados pelos habitantes itanhaenses da época. Vamos
convencionar o ano de 1835, que é o maio-termo do período estudado.
Pois bem, diz o Monsenhor, que há mais de um século
e meio atrás, precisamente há 160 anos, aqui já eram fabricados:
- canoas
- chapeús de palha e
- tabuado: conjunto de peças de madeira unidas entre si ou colocadas
lado a lado, que constituem o forro ou assoalho de uma casa, ou
mesmo suas paredes.
De acordo com José Rodrigues Poitena, nascido
em Itanhaém em 1914, no início do século, aqui se fabricavam, a
nível artesanal, e eram vendidos, no atacado, em Santos:
- remos
- gamelas: grandes vasilhas de madeira usadas para lavagens ou para
dar comida a animais domésticos
- samburás: cestos feitos de cipó ou taquara, bojudos e de boca
estreita, usados pelos pescadores para recolher peixes, camarões,
etc. ou para caregar seus apetrechos.
- cofos: espécie de samburás de comprimento maior.
- peneiras
- pás de bater café
- pilões
- cestos de taquara
- cabos para ferramentas
- linhas de Tucum: fibras finas e resistentes retiradas da Palmeira
(Tucum), que eram utilizadas na confecção de redes de descanso ou
de pescar.
Nos primórdios do século, já se fabricavam, aqui,
tijolos e telhas de barro, na olaria ao lado do morro Cunha Moreira.
Não podemos esquecer da serraria do Dr. Fernando
Arens, que era situada na área onde se encontra o atual Hotel Polstrini,
e fornecia a madeira industrializada por todo litoral, até Santos.
As madeiras provinham das proximidades dos rios,
Branco, Preto, Mambu e Aguapeú.
A Indústria de Produtos de Banana
Em 1930, devido à enorme produção de banana no
então Municipio de Itanhaém, que abrangia também os atuais Municípios
de Itariri, Peruíbe e Mongaguá, a Dona Forsell, fundou a primeira
fábrica de derivados de banans, tais como doces de banana e banana
passa, que fizeram grande sucesso na época, sendo os produtos exportados
para a Suécia.
Segundo o Sr. Harry Forsell, ex-prefeito de Itanhaém,
o segredo da qualidade era o "ponto exato" do doce que sá a Dona
Forsell conhecia.
A Indústria de Tamancos
Em 1933, o português aqui radicado, Antonio Nascimento
Moreira, iniciou a fabricação industrial de tamancos, que desde
o início atingiu um bom sucesso. O tamanco que ele fabricava, era
do tipo português, como nos conta José Gomes Rivera, o popular Zequinha
Tamanqueiro. Tal tamanco era feito com a madeira caxeta e couro
grosso de boi.
Logo na inauguração da fábrica do Sr. Antonio,
foi admitindo um garoto da terra, muito esperto e trabalhador, que
se apaixonou pela profissão de tamanqueiro. Era o Zequinha Tamanqueiro.
Cinco anos após, em 1938, o português vendeu a fábrica para o Zequinha
e foi embora da cidade.
Assumindo a fábrica, o Zequinha começou a lançar
novos modelos, principalmente femininos, que ele mesmo desenhava.
O sucesso foi grande e os tamancos de Itanhaém começaram a ficar
famosos em toda a região do litoral sul, inclusive em São Paulo,
para onde os turistas faziam questão de levar pelo menos um par
no retorno de suas férias.
Alguns anos mais tarde, Zequinha conheceu uma
turista do interior por quem se apaixonou e casou. Era a conhecida
Dona Santa.
Em homenagem aos índios de Itanhaém, ela batizou
a empresa de "Tamancaria Cacique"
Zequinha batizava suas novas criações de tamancos
com nomes indígenas, também objetivando homenagear nossos irmãos
índios. Um modelo foi batizado com o nome Diacuí, que era o nome
de uma índia.
Conta Dona Santa, que houve época em que se formava
fila em frente à tamancaria, devido a enorme fama que o produto
tinha atingido, não so no litoral e em São Paulo, mas também em
outras regiões do Brasil.
O sucesso não parou aí, pois na década de 80 a
Tamancaria Cacique exportava até para Miami (EUA).
Dona Santa conta que certa vez, uma criança se
apaixonou por um tamanquinho e chegou a ter forte febre de tanto
que pedia para a mãe comprar. A mãe desesperada, comprou o tamanquinho
e a criança teve melhoria quase que imediata. A febre passou e ela
feliz, começou a dançar com seu novo tamanquinho dentro da loja.
A Indústria de Colchões
À
exceção das poucas famílias de Itanhaém da primeira metade deste
século, a maioria da população dormia em redes ou esteiras de taboa.
Desejando melhorar a qualidade de vida de nosso povo, o sr. Antonio
Simões de Carvalho, nascido em Portugal mas itanhaense de coração,
fundou em 1949 a Fábrica de Colchões Anchieta nas proximidades do
atual entreposto de pesca, na rua Ursízino Ferreira.
O começo foi duro, pois ele e sua esposa cortavam capim no atual
bairro de Belas Artes, secava-o e transportava-o numa carroça para
a "fávrica'. Lá, fabricavam os colchões que eram disputados pelos
clientes devido à ótima qualidade e preço. Conta-nos o Sr. Carvalho
que vários comerciantes de Pedro de Toledo, Itatiti e até de Santos,
queriam comprar seus colchões, mas considerando que a produção era
pequena, ele dava prioridade para o mercado de Itanhaém. Muitos
clientes vinham de longe para comprar em Itanhaém o famoso colchão
Anchieta.
Em 1955 o Sr. Carvalho, observando que os colchões de mola fabricados
em outros centros, não atendiam às características do litoral (a
maresia atacava as molas que logo enferrujavam/quebravam), lançou
os famosos colchões Anchieta de mola, cujas molas eram feitas de
aço galvanizado. O sucesso foi total. Até hoje, muitos compradores
antigos desses colchões informam ao sr. Carvalho que eles ainda
se encontram em ótimo estado.
Fonte:
"Itanhaém História & Estórias (José Carlos Só) |