Ernesto
Zwarg, 83 anos, é o que se pode chamar: um homem de fibra.
Descendente de alemães, herdou do pai a coragem e a impetuosidade;
e, da mãe, a sensibilidade artística. É uma
criatura que está quase sempre metido num desvario de louco,
pois tem a árdua missão de salvar o mundo! Como se
isto fosse mesmo possível.
Zwarg foi o responsável direto pelo tombamento da mata da
Juréia, sul de São Paulo. Quando descobriu um projeto
de cidade, de 3 mil habitantes, no seio da mata, Zwarg alugou um
avião e convenceu o secretário de Meio Ambiente paulista
a sobrevoar a floresta. A partir desta iniciativa, o tombamento
se concretizou e a Juréia foi salva. Há 50 anos, o
ambientalista promove uma caminhada anual pela mata e praias que
compõem a reserva. O cenário é realmente praradisíaco.
O que no princípio era uma empreitada solitária, hoje
se transformou em caravanas de até 500 pessoas. A travessia
se dá durante os festejos de Bom Jesus de Iguape, em Agosto.
Mas, atualmente o ambientalista luta pela abertura da floresta,
cuja entrada está proibida ao público em geral. Zwarg
acusa o governo de permitir a biopirataria. E denuncia os cientistas
estrangeiros por estarem explorando o ecossistema sem favorecer
os nativos, que ainda moram, miseráveis, no local e estão
isolados do resto do mundo.
Zwarg é um briguento, conhecedor de seus direitos e revoltado
com o sistema. Foi o primeiro homem a impedir, em Itanhaém,
SP, a construção de prédios na praia, sem planejamento
de esgoto. Ganhou a ação na justica, inclusive no
Supremo e foi notícia até mesmo no New York Times.
Ainda na década de setenta, em plena ditadura militar, denunciou
e impediu a instalação de usinas nucleares na reserva
da Juréia. Mediante um foro ecológico realizado, por
ele, nas ruínas do Abareberê, em Peuíbe, SP,
no qual compareceram diversas autoridades internacionais, inclusive
soviéticas, o governo brasileiro recuou e desistiu dos projetos,
que acabaram se transferindo para Angra dos Reis. Aos 17 anos de
idade, depois de assistir pelo cinema o papa abençoando os
canhões da Itália facista, Ernesto Zwarg escreveu
carta ao pontífice, pedindo a este que o excomungasse, por
discordar das suas atitudes. Para devolver a praia aos banhistas,
confiscada na época por um grande hotel, na ilha de Cananéia,
SP, Zwarg alugou um barco, convidou autoridades e simpatizantes
à causa e zarpou rumo à ilha. Vestido à caráter,
isto é, de pirata, e amparado pela mídia, invadiu
o hotel e conseguiu, sem saqueá-lo nem derramar sangue, restituí-lo
à população. "Eêêê Parnapuan
Fermoso"! Seu grito de guerra, pode ser escutado toda vez que
atravessa a ponte sobre o Rio Ribeira de Iguape. Como vereador reeleito
três vezes pela cidade de Itanhaém, Zwarg protegeu
a natureza e os índios. Em seu primeiro mandato, aprovou
mais projetos de lei que todos os outros vereadores juntos, nos
últimos vinte anos de Câmara Municipal. É um
fenômeno! Furacão em constante turbulência, andarilho
incansável e venerador de Henri Thoureau, o anarquista genial
que influenciou Ghandi com seu livro Desobediência
Civil.
Pela manhã, ao invés de nos desejar um bom dia, Zwarg
brada: A propriedade é um roubo! E neste desvario ele se
sustenta. Certo dia, a caminho de Iguape, pude observá-lo
mais detidamente. Como se a morte o esperasse do outro lado do rio,
ele criava alucinadamente mesmo com o carro em movimento. Anotava,
em papel ordinário, rascunhos de poemas, letras de músicas,
esboçava projetos, desenhava, cantava, chorava e dava gargalhadas,
quase tudo ao mesmo tempo. Vendo-o naquele estágio febril
de criação, não tive dúvida: estou diante
de um ser humano muito especial.
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